Um excelente “marisco” para acompanhar a imperial.
Por ele, ninguém dá nada. Tem uma cor amarela deslavada, casca, é feio e quase não tem sabor. Talvez por isso, poucas vezes o convidem para a mesa. Chega quase sempre como acompanhante – da cerveja – num reles prato de chávena de café. Injustiçado tremoço!
“Camarão dos pobres”? Qual quê! Rico. Rico é o que ele é, mas poucos sabem. Cem gramas de tremoço são uma bomba nutritiva: Têm três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite; o mesmo cálcio; uma quantidade surpreendente de ferro e fibras. E, como se isto não bastasse, ainda por cima não engorda! Só lhe falta mesmo o estatuto.
A International Lupin Association já está a fazer por isso: quer promover a valorização do tremoço e quer também que a comunidade Europeia o considere “Nouvel Food”.
Portanto, toca a dobrar a língua da próxima vez que vir um tremoço…
Algures numa rotunda num concelho perto de si… o mais comum dos condutores repara… “Hum… afinal não são só os fingidos, os palhaços também são cultura”. O que seria da corte sem o bobo a fazer de corte e o que seria do bobo sem uma corte a quem envergonhar? “Sim é a festa dos loucos”, diz o burgo em uníssono. “Ah, taditos”, diz o povo.
Na tribo dos Kissi na Guiné, quando morre alguém, um parente por afinidade da família do morto vem parodiá-lo antes que seja enterrado. No Madagáscar os amigos do defunto devem-se reunir e zombar do cadáver.
Em Coruche, perante a inépcia e a rotina vaidosa de uma população e da sua corte ocupa-se uma rotunda com garrafões de tinto, sardinhas por assar e uma vontade de rir sem barreiras, acessível a quem se lhes quiser juntar. Uns dizem que é uma sátira ao facto da rotunda parecer o pinhal de Leiria em miniatura, mas não é, pois se metem lá uma estátua onde se celebra no ano que vem? Outros dizem que é só para dar nas vistas. Óbvio, caso contrário almoçávamos cada um em sua casa. Outros, ainda menos elucidados sobre o que é remar contra a maré da ordem instituída, lá dizem que “é malta que não tem dinheiro ou classe para ir ao festival do Toiro Bravo e então fundaram o seu próprio festival”. Têm razão. Pois está claro.
“Poderíamos concluir que a paixão do riso é um repentino movimento de vaidade produzido pela súbita percepção de alguma vantagem pessoal comparada com uma fraqueza que notamos actualmente nos outros ou que anteriormente tínhamos” lá disse o senhor Thomas Hobbes.
Mais palavras para quê? Não tem sapato de vela? Gosta pouco de gostar muito de coisas que afinal até nem gosta tanto? Gosta de sardinhas a atirar pró cru? Tá teso que nem um carapau mas aguenta-se com meia dúzia de sardinhas, uma fatia de pão e dois litros de vinho mau? Tem bicicleta? Se preenche todos estes requisitos junte-se a nós no III Festival da Sardinha Brava do ano que vem, porque o II foi no mês passado e provavelmente perdeu-o.
in O Jornal de Coruche